Para pensar..

Vivemos em um mundo onde a política é predominantemente liberal, detentora de um poder desmedido, inteligente e desigual. Viver em um mundo assim faz com que nos deparemos com inúmeras situações de desigualdades sociais diariamente, em diversos lugares e com diversas pessoas. E isso é tão forte que em muitos momentos faz com que, de uma forma ou outra, tornemos isso natural.

Pode ser que nesse momento você se pergunte o motivo pelo qual escrevo aqui que isso é natural.
Porque isso é natural?

Pois bem, a naturalização da desigualdade é, em alguns aspectos, natural porque em muitas vezes estamos presos a ela, convivemos com ela e, mesmo sem percebermos, reproduzimos a desigualdade. Às vezes no modo de falar, em algumas piadas, comentários, ou até mesmo ao emanarmos pensamentos vagos sobre alguma situação ou outra em que nos deparamos.

É engraçado ressaltar isso. Nos dias de hoje vemos ao redor do mundo algumas situações pontuais que nos fragilizam, fazem com que pensemos em como o mundo chegou a esse limite de desigualdade e violência. Bom, você e eu também fazemos parte disso.

Pensemos em pequena escala:
Quando você está na rua e passa por algumas pessoas em situação de vulnerabilidade social (morador de rua), muitas vezes você logo pensa em algumas situações que podem tê-los levado a estar ali. Bom, nem tudo é uma questão de escolha (não dessa forma fria na qual encaixamos o termo). Ou talvez você simplesmente passe e nem perceba o que acontece, ignorando a situação.

Outro caso fatídico é aquele em que pegamos um ônibus, e lá pelas tantas sobe alguma criança vendendo doces para arrecadar dinheiro para família. Você pode pensar na situação que levou esta criança a estar naquele momento vendendo doces e sentir piedade e ajudar de alguma forma. Você pode se emburrar por esta criança estar atrapalhando o seu translado. Você pode criticar a política que não faz nada para que essa criança esteja segura dentro de uma escola, e a família com segurança econômica, para que essa situação não ocorra. Ou talvez você simplesmente nem perceba o que acontece, ignorando a situação.

São duas situações cotidianas que em algum momento da vida já nos deparamos. E o que fazemos com isso? É natural? É cotidiano? O que é?
Essas situações também são formas de violência, desigualdade e violação de direitos – demasiadamente humanos. São coisas que acontecem e se repetem.
Se formos olhar o extremo da violência, desigualdade e violação de direitos, nos dias de hoje, temos três exemplos: Mariana (MG), Paris, Síria (Estados Unidos e o “Estado Islâmico”).

O caso de Mariana é muito pontual. Lembro sobre toda a discussão feita sobre o Rio Doce, a população indígena e a violação de direitos, mas pouco recordo sobre ter o olhar atento da população e da mídia local sobre tal assunto. Hoje temos todos os olhares voltados pra isso, infelizmente por uma tragédia clamada lá no início da construção da barragem.

Ao olharmos para o “atentado terrorista” de Paris percebemos a violência explícita, gritando aos ouvidos do mundo. Mas também devemos recordar toda opressão, privação de direitos, jogos políticos, e as amarras de uma guerra fria que ocorre desde o final da segunda guerra mundial (em 1945). O hoje temido Estado Islâmico foi fruto disso, um grito triste, rebelde e violento por direitos, por espaço no mundo. 

Tudo está interligado, eu, você, o morador de rua, a criança no ônibus, a política, o pensamento que emanamos, a ignorância diante os fatos, o mundo e as pessoas.

Talvez reconhecer isso tudo seja um bom primeiro passo. Seria um tanto quanto pretensioso afirmar que resolveremos todos os problemas do mundo assim, num piscar de olhos, mas ao abrirmos os olhos para ver essas situações possa ser uma forma de fazer com que essa violência, desigualdade e violação de direitos não seja mais natural no nosso dia-a-dia. Assim não precisaremos de mais casos como o de Mariana e Paris.

Lembrando sempre que na nossa individualidade podemos mudar sim, podemos compartilhar ideais, de um, podemos ser dois, de dois, podemos ser muitos, se vibrarmos energia em coletividade.



Luana Barbosa
Grupo Jovem Raios de Luz