Algumas das influências e diferenças dos cultos africanos, da pajelança indígena, do catolicismo e do espiritismo
Nesta sexta dia 10 de Maio- sessão em Homenagem aos Pretos velhos- sejam bem vindos!
Tema do curso mediúnico - do Grupo Raios de luz
texto do livro Umbanda Pé no chão de Norberto Peixoto
Tema do curso mediúnico - do Grupo Raios de luz
texto do livro Umbanda Pé no chão de Norberto Peixoto
Algumas das influências e diferenças dos
cultos africanos, da pajelança indígena, do catolicismo e do espiritismo
Cultuamos os orixás na umbanda; por isso, é importante enfatizar
algumas diferenças cruciais em relação aos cultos das diversas nações africanas.
Primeiramente, temos de ressaltar que a prática umbandista não é politeísta:
acreditamos em um Deus
único e inigualável, não importando muito se o seu nome é Zambi, Olurum ou
simplesmente Pai. Os orixás são forças da
natureza, energias cósmicas provindas do Criador. Portanto, não os
incorporamos nem eles apresentam características humanas, como vaidade, ciúme,
sensualidade e raiva. Não nos vestimos com as roupas dos deuses nem damos de
comer aos "santos" incorporados, e eles também não aprendem a dançar
conosco.
Quem se manifesta nos terreiros de umbanda são espíritos
desencarnados que têm afinidade com determinado orixá e formam as chamadas
linhas vibratórias. Na maioria, são entidades que ainda irão reencarnar e que
estão em aprendizado recíproco com seus médiuns. Como têm um compromisso
coletivo a realizar, encontram no Astral oportunidade de aprendizado e evolução
fazendo a caridade. Outras (a minoria), são mentores que não mais reencarnarão compulsoriamente no planeta, e,
por possuírem um elevado amor, estão vinculadas à coletividade espiritual
terrena nos auxiliando, assim como Jesus o faz desde épocas imemoriais.
Uma significativa parcela dessas consciências extracorpóreas já
poderia estar nos planos vibratórios celestiais, mas, por vontade própria,
exercitando o livre-arbítrio, optaram por atuar em densa camada evolutiva, como
a da Terra. Assim como as águias conseguem voar rente à superfície do solo,
junto às galinhas d'angola, os que ascenderam podem fixar-se mais abaixo, nas
escalas evolutivas, para estar mais próximos dos que amam e que ficaram para
trás na escada do espírito eterno. No entanto, o inverso requer esforço,
transformação e mérito, assim como a galinha d'angola não consegue pairar
voando no sopé da montanha como a águia o faz.
Na umbanda, a mediunidade é um processo natural, decorrente de uma
ampla
sensibilização fluídica do espírito do médium, antes do reencarne,
de forma a facilitar a sintonia com as entidades que o auxiliarão e que têm
compromisso cármico com ele. Então, é dispensável as camarinhas e os longos
isolamentos para "deitar pro santo", os pagamentos pecuniários aos
sacerdotes, a fim de obter ritos de iniciação, bem como os sacrifícios animais
com cortes rituais na
altura do crânio do médium para fixar "divindades" no
chacra coronário. Também não é preciso dar comida à cabeça para firmar o guia
nem "obrigações" de troca com o Sagrado, muito menos adotar
procedimentos de imolação com derramamento de sangue para reforçar o tônus
mediúnico,
que são interferências ritualísticas existentes em outros cultos,
mas não fazem parte dos fundamentos da umbanda.
Todo o método de interferência e "acasalamento"
medianímico entre aparelho encarnado e guia espiritual é natural e se
concretiza após longa preparação entre encarnações sucessivas, conforme pôde
ser comprovado pela manifestação límpida e cristalina da mediunidade em Zélio
de Moraes, que, em tenra idade física, recebeu o Caboclo das Sete
Encruzilhadas, numa expressão de
mediunismo espontâneo e inequívoco. Há de se registrar que ele não
teve "pai de santo" e nunca
permitiu que o chamassem com tal distinção sacerdotal, o que nos leva a
refletir sobre a vaidade existente entre certas lideranças umbandistas, cujas
criaturas são iguais a quaisquer outras. Nunca
se teve tantos sacerdotes, mestres, gurus e discípulos inseridos
numa ferrenha e aguerrida competição entre "escolas", buscando a
prevalência entre as ovelhas, como hoje, na era da comunicação digital, das
listas de discussões na internet. Esquece-se de que se os pastores brigam pela
tosquia do rebanho, poderá faltar lã na invernada.
Temos na origem africana da umbanda consistente fundamentação,
especialmente a do conhecimento dos orixás, dos elementos, das ervas, dos
cânticos, enfim, da magia. Foi pelo sincretismo entre a religiosidade africana
e o catolicismo que os fundamentos dos orixás se mantiveram ao longo dos tempos
no Brasil, embora, voltando ao passado remoto, à época da
submersa Atlântida, cheguemos a esses mesmos ensinamentos
sagrados, detectando que a essência em suas semelhanças foi mantida, ainda que
tenha havido uma enorme diversidade de culto na história das religiões.
Inquestionavelmente, se não fossem os africanos trazidos para solo pátrio
não teríamos os orixás na umbanda atual.
A pajelança indígena é um termo que designa as diversas
manifestações mediúnicas dos índios brasileiros. Geralmente é realizado um
ritual em que o sacerdote (pajé) entra em contato com espíritos de ancestrais e
de animais, com a finalidade de cura e resolução de problemas da tribo. Nessas sessões,
podem ser tomadas infusões de ervas ou fumadas determinadas folhas que
facilitam o desdobramento astral, fazendo com que o medianeiro
ingresse no mundo dos espíritos de forma induzida e não natural. Obviamente
temos muito da herança silvícola na umbanda, mas não utilizamos recursos
alucinógenos para a manifestação dos espíritos. Verificamos ainda uma pajelança
cabocla, com diversos nomes, difundida na Amazônia e no nordeste do Brasil que
se "umbandiza" aos poucos. Existem fragmentos rituais do catolicismo
popular, rico em ladainhas, do xamanismo indígena, com beberagens, e,
infelizmente, os indispensáveis sacrifícios (ebós) preponderantemente provindos
das nações africanas, de maneira geral ritos locais conhecidos como Catimbó,
Tambor de Mina, Jurema e Toré, que dão ênfase ao tratamento de doenças e
consolo psicológico às populações carentes (cura, arrumar emprego, amor,
alimento etc.), as quais, em muitos casos, só encontra nas práticas mágicas
populares a
possibilidade de realização de seus anseios diante de uma vida
sofrida.
Observamos que esses ritos se distanciam da umbanda quando cobram,
matam animais, não respeitam o livre-arbítrio e estabelecem uma relação de
troca com os espíritos, "facilitando" a vida dos carentes que os
procuram para um escambo de benesses. Por outro lado, muitos pretos velhos e
caboclos missionários, que são como bandeirantes andarilhos de Jesus, vão
consolando e falando do Evangelho do Divino Mestre nesse meio ritual, um tanto
anárquico e fetichista, de maneira a acalmar a urgência dos filhos de fé em
verem atendidos os seus pedidos e despertá-los para as verdades espirituais que
ensinam: "a semeadura é livre, mas a colheita é obrigatória".
Quanto ao catolicismo, urge esclarecer que os santos católicos já
devem ter reencarnado animando outras personalidades na matéria. Acreditamos,
respeitando as diferenças e a necessidade cármico-evolutiva de cada terreiro,
que as imagens africanas dos orixás são mais originais e afins à umbanda do que
qualquer outra. Basta olhar um ogum africano, simbolizando o
orixá em seus atributos ancestrais que se perpetuam no tempo,
independentemente de uma individualidade, para comprovarmos a oceânica
diferença de São Jorge, um espírito que encarnou, mesmo sabendo da intensa
adoração e força que a fé coletiva deposita nesse "santo".
Diante disso, é impensável não cultuar na umbanda o São Jorge dos
católicos, em cima do cavalo, com espada em punho subjugando o dragão. Esse
nosso modelo de interpretação se baseia principalmente na associação feita na época
da escravatura entre os santos católicos e os orixás, em decorrência da
proibição religiosa de culto que os africanos sofreram. Hoje, no entanto, num
ambiente de liberdade, devemos manter o sincretismo católico de
acordo com fé de cada grupo,porém conscientes das leis universais de
reencarnação que imputa aos espíritos santificados na Terra a abençoada
reencarnação, acima dos separatismos causados pelos dogmas religiosos.
Outro aspecto do catolicismo presente em muitos terreiros são
sacramentos como o batismo e o casamento, e até as procissões em vias públicas,
como as habituais festividades para Ogum e Iemanjá que coincidem com o
calendário católico - a nosso ver, práticas do catolicismo amalgamadas em uma
parte significativa da umbanda, assim como era comum antigamente os filhos de
africanos e índios catequizados freqüentarem ao mesmo tempo tanto a igreja como
os cultos de suas nações e tribos. A aplicação desses sacramentos e também das
chamadas iniciações ritualísticas é que acaba por criar uma casta sacerdotal
que vive da religião, cobrando pelos serviços prestados. Lembremos que Jesus
fazia tudo de graça.
No tocante ao espiritismo, a diferença básica, sem dúvida, é a
ausência de ritual nos centros espíritas, os quais estão presentes na umbanda
em abundância, e até de maneira anárquica e diversificada, ao contrário da
rígida padronização existente no movimento espírita ortodoxo.
Entendemos que as semelhanças se dão quanto ao apelo caritativo, à
mediunidade, à aceitação da reencarnação e da pluralidade dos mundos habitados,
entre outras verdades universais. Entretanto, a maior semelhança entre ambas é
a presença de Jesus, que na umbanda é sincretizado com o orixá Oxalá. Por isso,
ao anunciar a nova religião, o Caboclo das Sete Encruzilhadas associou-a ao Evangelho.
Teria sido acaso a presença dos ensinamentos do Cristo num ambiente religioso
em que se cultua os orixás? Responderemos este assunto mais adiante.
Concluindo este capítulo, queremos dizer que nossa intenção não é recomendar
uma prática de umbanda purista, mas sim fortalecer sua identidade, suas raízes
ancestrais, inseridas num contexto social e psicológico atual, livre de
perseguições e preconceitos religiosos, num ambiente
de saudável diversidade, em que as diferenças devem unir e as
semelhanças fortalecer. A umbanda sobressai em relação a outras religiões, pois
se adapta às consciências nas localidades geográficas onde se expressa, dando o
tempo necessário, de acordo com a capacidade de compreensão de cada coletividade
envolvida pelo manto da sua caridade, ao crescimento espiritual, sem julgamentos
belicosos ou imputação de dor e sofrimento como formas de crescimento. Por sua
ampliada universalidade, atrai para si outras religiões, fazendo com que o
entendimento de cada consciência encontre referências rituais em seus
terreiros, tal como uma costureira que alinhava vários retalhos
numa mesma colcha. A umbanda resgata o consolador crístico, assim
como Jesus fez em Suas andanças terrenas, e não imputa aos seus prosélitos que
"fora de sua seara não há salvação".
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