Estudo de Umbanda-
Palestra de sexta dia 15 de Março
Estrutura astral do movimento umbandista
Fala-se muito da umbanda como sendo um "movimento de expressão por meio de
diferentes rituais".
Isso ocorre porque não existe uma codificação que a ampare, fazendo prevalecer
um modelo doutrinário que promova a uniformidade entre os terreiros. Ao mesmo
tempo em que a umbanda permite que as lideranças espirituais criem ritos,
conforme a orientação de seus guias e o compromisso cármico evolutivo mantido
com eles, é alvo de constantes conflitos, em razão das divergências
apresentadas entre a infinidade de terreiros existentes, quando secompara esses
fundamentos.
- Nota do médium: A
umbanda não terá uma codificação; ao contrário, é como uma grande escola em que
seu regimento pedagógico deve ser elaborado pelos próprios alunos, o que pode
parecer uma desorganização aos olhos apressados dos aprendizes que aguardam o
mestre para fazer a lição, não sabendo que a instrução é exatamente esta:
aprender por si, a se tolerarem nos erros e se unirem nos acertos. Portanto, o
movimento de umbanda tende naturalmente, com o tempo, a uma acomodação ritualística
e, conseqüentemente, a uma salutar uniformização que a torna ética e
caritativa.
Sendo um movimento direcionado do Astral para a Terra, é
difícil concordar com modelos pré-estabelecidos que apresentam a umbanda com um
número fixo de linhas vibratórias por orixás,impondo formas de apresentação das
entidades que labutam na sua seara. Podemos afirmar que a umbanda não é uma
religião mediúnica engessada, estratificada, como se fosse um exército que só
pode trabalhar com este ou aquele espírito, desde que se manifestem nas formas
de caboclos, pretos velhos e crianças, quantificando-se o número de espíritos
que a compõem por linha, legião, falange e sub-falange.
Quando analisamos esses fundamentos, verificamos que
exaltam-se a forma e minimizam-se a essência umbandística que o caracteriza
como um movimento caritativo mediúnico de inclusão espiritual, e nunca de
exclusão. A natureza cósmica não é rígida e imutável, e sim flexível e em constante
transformação. Por exemplo: as formas de apresentação dos espíritos que se classificam
como exus são as mais diversas possíveis, descartando-se a imposição de que
somente caboclos, pretos velhos e crianças são "entidades de
umbanda", embora reconheçamos que são as principais, sem desmerecer
nenhuma outra ou dar uma conotação de superioridade sobre as demais, pois
sabemos que formam uma espécie de triângulo fluídico que sustenta o movimento
do Astral para a Terra.
Na verdade, antes de ser anunciada para os habitantes da
Terra pelo Caboclo das Sete
Encruzilhadas, a umbanda já existia no Espaço, congregando
uma plêiade de espíritos
comprometidos com a universalidade do amor pregado por Jesus
que, nos seus primórdios, se apresentavam
através da mediunidade basicamente como caboclos e pretos velhos, por se
ligarem às raças excluídas do mediunismo pelo preconceito do movimento espírita
da época. Essa situação demonstra um atavismo milenar dos espíritas que nada
tem a ver com o espiritismo, doutrina libertadora por natureza.
Infelizmente, ainda hoje, entidades que se apresentam como
negras e índias são proibidas de manifestarem suas culturas e suas
peculiaridades em muitos centros espíritas, como se os espíritos fossem
exatamente iguais, como robôs: todos de raça branca, médicos, advogados, filósofos
judaico-cristãos e ex-sacerdotes católicos, de fala padronizada (uma vez que
decoram as obras básicas), com jeito choroso de pregador evangélico e idêntica
compreensão do Além- Túmulo. Seria um parâmetro artificial, porque logo
constatamos, no decorrer do exercício da mediunidade, que a maioria dos
espíritos não são "espíritas", pois apresentam enorme diversidade de
entendimento espiritual, no qual predomina diferentes filosofias e religiões
que convergem em
direção às verdades universais consagradas no espiritismo, e
existentes muito antes da recente codificação kardequiana, que formaram suas
consciências desencarnadas ao longo da história planetária.
Reflitamos: se os gomos de uma mesma laranja são diferentes,
assim como os anjos e
querubins o são, em relação uns aos outros e a Deus, o que
esperar dos mentores e guias que "descem" à crosta para nos auxiliar?
Não vamos impor rituais ou fundamentos, nem quais são as
sete principais linhas vibratórias da umbanda, já que elas variam de terreiro
para terreiro e todos fazem a caridade. Sabemos que as falanges espirituais são agrupamentos de espíritos afins a
determinados orixás (não os incorporamos na umbanda e trataremos deste tema em
capítulo a parte) que possuem semelhante vibração e compromisso caritativo:
pretos velhos, caboclos, exus, crianças, baianos, boiadeiros, marinheiros
ciganos, orientais das mais diversas etnias, entre outras formas e raças
relacionadas à evolução humana no
orbe.
É importante esclarecer algumas dúvidas mais comuns quanto à
formação das falanges na umbanda.
Numa determinada falange pode haver centenas de espíritos
atuando com o mesmo
nome, aos quais denominamos de falangeiros dos orixás.
A falange de Cabocla Jurema, por exemplo, é constituída de milhares de
espíritos que adotam este nome, como se fossem procuradores diretos da vibração
do orixá Oxossi. Então, sob o comando de um espírito, existe uma quantidade
enorme de outros espíritos que se utilizam dessa mesma "chancela" ou
"insígnia" - uma espécie de autorização dos Maiorais que regem o
movimento umbandista e que identificam os que já adquiriram o direito de
trabalho nas suas frentes de caridade no orbe.
Na verdade, quando um médium incorpora uma Cabocla Jurema,
ele se enfeixa na falange que tem uma vibração peculiar. Por isso, pode ocorrer
a manifestação de centenas de caboclas juremas ao mesmo tempo, pelo Brasil
afora, inclusive dentro de um mesmo terreiro.
Quantas vezes ocorrem- sérios conflitos em um terreiro
porque certo médium começa a
manifestar uma entidade com o mesmo nome do guia do
dirigente. Aí começam os ciúmes, as vaidades feridas, e gradativamente o médium
"abusado" começa a ser desacreditado em sua mediunidade, como se uma
determinada entidade fosse propriedade de alguém na Terra. Devemos estudar
mais, observar melhor o plano astral e o que os espíritos do "lado de
lá" têm para nos ensinar.
Vemos muitos "sacerdotes" despreparados, fazendo
coisas porque sempre foram feitas de determinada maneira, ou mesmo proibindo os
trabalhadores da corrente de se instruírem por meio da leitura, o que é algo
semelhante à "caça às bruxas" do tempo da Inquisição, que retorna atavicamente
em algumas personalidades detentoras de poder religioso.
Considerando que é possível um mesmo espírito atuar em
diversas falanges com mais de um nome, de acordo com sua missão e evolução
espiritual, percebemos o quanto é grande o nosso apego às entidades que nos
assistem quando ouvimos corriqueiramente a seguinte afirmação de muitos
médiuns: "meu guia", "meu caboclo", "meu exu". Na
realidade, eles é quem nos escolhem do
"lado de lá". A opção sempre parte do mundo espiritual. Quantas vezes
nos achamos privilegiados por ter como guia o caboclo mais forte, quando ele
está se manifestando bem ao nosso lado, no médium mais simples e prestativo do
terreiro, como um humilde pai velho, por não encontrar mais no seu antigo
aparelho o campo psíquico livre da erva daninha que é a sorrateira
vaidade.
Da mesma forma, um espírito pode estar atuando manifestado
mediunicamente em vários aparelhos ao mesmo tempo, numa diversidade de
terreiros. É possível a certas entidades vibrarem numa espécie de
multiplicidade vibratória (ubiqüidade), pois as distâncias e o tempo do
"lado de lá" diferem em muito do plano físico. Imaginemos uma mesma
fonte geradora de eletricidade que alimenta muitos fios que levam a energia
para vários bairros. A mesma força que entra na mansão de João, entra no
casebre de José, na choupana de Maria, na casa do feirante, no apartamento do médico,
sendo a origem fornecedora a mesma, ainda que mude a luminosidade e a cor aos
nossos limitados olhos.
Concluindo este item referente à estrutura astral do
movimento umbandista, esclarecemos a quem acusa a umbanda de personalista que
raramente uma entidade atuante em nossos terreiros se prende a uma encarnação
específica e a revela aos filhos da Terra, pois entendem que esses detalhes são
de pouca importância diante da gigantesca caridade que têm de prestar. A
humildade, como bem recomenda a espiritualidade de umbanda, dispensa histórias
romanescas de personalidades distintas do passado, a exemplo de ilustres
tribunas, sacerdotes, centuriões e senhores da lei. Nossos guias bem sabem que
os conhecimentos desses feitos servem apenas para
exaltar um médium diante de uma comunidade.
É surpreendente o fato de personagens famosos de outrora
estarem humildemente por trás de uma aparência de caboclo, como acontece com
doutor Bezerra de Menezes, e inúmeros outros espíritos, a exemplo de Joana de
Ângelis, que se apresenta com a vestimenta de uma vovó mandigueira do Congo
velho africano. Apelamos aos companheiros de todas as frentes mediúnicas que
deixemos os sectarismos de lado e permaneçamos distantes de nossas atitudes
orgulhosas e superiores perante os irmãos que optam por doutrinas diferentes
das que abraçamos.
Vamos nos respeitar fraternalmente.
Livro - Umbanda pé no chão- Norberto Peixoto
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